Em defesa do meio ambiente

 

Muito do património na Índia já teria desaparecido se a voz de Vandana Shiva não se fizesse ouvir através de fóruns internacionais, como a Conferência das Nações Unidas sobre Ambiente e Desenvolvimento, conferências sucessivas e inúmeras obras já publicadas, todas baseadas num ideal comum: A protecção do meio ambiente e o bem-estar da sociedade.

Vandana Shiva é uma das líderes mais importantes do movimento anti-globalização, na Índia. Na sua condição de física nuclear e ecologista, é vigorosa manifestante contra a agricultura de alta tecnologia e a interferência das corporações na vida das comunidades. Os riscos são enormes e as consequências potencialmente catastróficas. Mas, mesmo assim, a nova tecnologia está a ser rapidamente incorporada em todos os aspectos da nossa vida e com poucas preocupações quanto à segurança e saúde das populações. Por isso, a ecologista manifesta-se a favor de plantações orgânicas e primitivas, cultivadas pelos agricultores.

A sua preocupação é partilhada pelas populações que se manifestam, no sentido de proteger os tabus culturais e o meio onde se inserem. Shiva, declara que “o conhecimento é património comum que existe entre os povos, sendo transmissível através das gerações”.

O movimento dirigido por Vandana Shiva critica as corporações e está contra os governos que se têm tornado verdadeiramente insensíveis aos seus apelos e das populações.

A biodiversidade, protecção do meio ambiente, agricultura sustentável e alimentos geneticamente modificados são a sua grande preocupação, partilhada por outros ambientalistas que se dedicam a esta causa junto dos sistemas em perigo, alertando governantes e instituições para as consequências futuras. A tese que defende no livro de sua autoria – Biopirataria: A pilhagem da natureza e do conhecimento – é uma clara demonstração dos pontos mais problemáticos aliados às culturas transgénicas e ao processo de globalização neo-liberal em que estes projectos se inserem, defendendo a biodiversidade, as práticas alternativas na agricultura, e as formas de conhecimento exteriores à tradição da cultura ocidental.

As sementes usadas na agricultura podem ser, e tradicionalmente têm sido, entidades biológicas que se reproduzem rotineiramente de uma colheita para outra. Neste contexto, elas são recursos regenerativos, sobre os quais muita coisa se pode afirmar. Assim, constituem parte integrante de ecossistemas sustentáveis, reproduzem-se e geram produtos que satisfazem necessidades locais, são parte da herança comum de toda a humanidade, tendo sido seleccionadas pelos lavradores ao longo dos séculos, através de métodos informais, usando o conhecimento local partilhado pelos trabalhadores em geral.

 Por tudo isto, a semente é considerada pela autora um símbolo representativo. Assim, como mercadoria simboliza desenvolvimento comercial, na qualidade de recurso renovável representa a possibilidade de fortalecimento, auto gestão e alimentação para animais e pessoas. Na natureza preserva a diversidade cultural e biológica e promove a sustentabilidade ecológica. Vandana demonstra a sua vivência como activista aliada ao universo intelectual de uma ciência nada reducionista dizendo: “A semente tornou-se o lugar e o símbolo da liberdade nessa época de manipulação e monopólio de sua diversidade. Ela faz o papel da roda de fiar de Gandhi no período da recolonização pelo livre comércio. A roda de fiar tornou-se um importante símbolo de liberdade não por ser grande e poderosa, mas por ser pequena; ela podia adquirir vida como sinal de resistência e criatividade nas menores cabanas e nas mais humildes famílias. Seu poder reside na sua pequenez. A semente também é pequena. Ela incorpora a diversidade e a liberdade de continuarmos vivos… Na semente a diversidade cultural converge com a biológica. Questões ecológicas combinam-se com a justiça social, a paz e a democracia”.

Com objectivos bem definidos, Vandana Shiva defende a originalidade das sementes, tendo como principal finalidade a promoção das práticas agrícolas tradicionais e sustentáveis, com a reserva e troca de sementes pelos agricultores, sem recurso aos mecanismos do mercado.

A extinção da agricultura tradicional e a sua perda de identidade, característica que a mantém como uma espécie genuína e perfeita obra da natureza, desencadeia graves problemas sociais que dão origem a fome e violência entre as comunidades.

 

 

 

 

 

 

A semente no seu habitat natural

 

Minha pequena semente laboriosa!…

Tu, que da terra tiras o sustento e ao homem dás alimento…

Porquê te exploram de forma tão duvidosa?

A ideologia que te fez nascer é a esperança de quem te vê crescer.

Agora, pequena planta, a terra já mal reconhece quem és…

O agricultor manifesta-se contra o teu revés.

O homem disputa ambições e a ciência cultiva invenções:

Padece a saúde com tantas transformações.

Quem te conhece bem sabe que és inofensiva!…

Mas isso não basta: a ciência é permanente e decisiva.

Cabe ao homem determinar a tua sobrevivência!…

Mudam-se os tempos, contornam-se as vontades;

Nas mentes surgem ideias, dando origem a novas oportunidades.

Por vezes, na dúvida, arrisca-se qualquer solução;

Esquece-se que a vida é um direito e depende de pão.

Ignorando resultados, erguem-se castelos em espaços viciados;

Fazem-se “ouvidos moucos” a apelos continuados.

O presente junta-se ao passado: procura-se um futuro mais ajustado,

sendo irrelevante se é, ou não, o mais adequado.

Assim, nobre semente, orgulha-te da tua história tradicional,

pois, da ciência depende o futuro deste mundo tão desigual.

 

 

Nazaré Cunha (2008-10-04)

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