OS DESIGNIOS DE CAMÕES
Camões, o poeta de quem tanto se fala, para além de nos descrever outras épocas e outros espaços, foi também um exemplo de coragem e de abnegação.
Sempre instável e irreverente, provoca situações que pouco abonam a sua reputação. Detentor de uma enorme determinação, parte [é degradado] para terras longínquas. Daí, chegam “Os Lusíadas”, a “Obra” de que Portugal se orgulha!…
Sobre o seu nascimento (1524-1525), pouco se fala…
talvez em Lisboa, ou em qualquer outra parte.
Era poeta, de forma discreta, amava e escrevia com arte.
Na alma “Os Lusíadas”, orgulho que Portugal embala.
Viveu Coimbra, descreveu o Mondego até ao mar.
Com a pena e o papel, revelou factos importantes.
Porém, no seu pensamento andavam terras mais distantes.
Atirou ao rio as suas mágoas e partiu sempre a sonhar.
Em 1550, vai para Ceuta, ao serviço da Pátria Mãe.
Perde um olho em combate, regressando depois a Lisboa.
Contra a lei, pratica actos que a justiça não perdoa,
Sem rumo, desespera, a sua vida não está bem.
Lutador aventureiro, participa em numerosas expedições.
Decidido, parte para o Oriente, aportando em terras de Goa.
Por lá esteve preso… passa o tempo entre a escrita e a proa.
Como poeta épico e lírico sempre se afirmou Camões.
Na Índia, Egipto, África, com D. Fernando de Menezes,
persegue os mouros e escreve para quem o pretenda.
Foi escriba público, vendendo a alma por encomenda.
Para o Reino, escreve cartas dos soldados portugueses.
Até 1556, vive em Goa, no sopé duma montanha.
Numa mão empunha a espada, na outra segura a pena.
Camões sobrevive, mas a dor não é pequena,
o poeta faz história, nesta terra que lhe é estranha.
No regresso, o naufrágio… Camões, no mar, implora o “Divino”.
Com “Os Lusíadas” junto ao corpo, tudo faz para os salvar.
A História não pode perder, o homem para vencer tem que lutar.
A “Obra” trás o sonho do poeta, Portugal é o destino.
Lisboa, Santa Clara, 1579. Camões, pobre e doente ainda murmura:
“Enfim acabarei a vida e verão todos que fui tão afeiçoado
à minha Pátria que não só me contentei de morrer nela, mas com ela”.
Morre o poeta na sua forma discreta, fica o registo que perdura.
Nazaré Cunha
(04-05-2008)