Os Goeses se espalharam pelos quatro cantos do mundo. Eles são verdadeiros cosmopolitas. Em Goa eles se aculturaram à cultura lusíada, processo este que levou séculos. O Goês se sentia às vezes bem, às vezes mal nesta simbiose do Oriente e Ocidente. A literatura indo-portuguesa nos oferece expressões de sua perfeita sintonia com o modo de ser português. O poeta goês, Mariano Gracias (1871-1931), natural de Margão, seguiu para Coimbra, onde diplomou-se em Direito. Exprime as suas emoções destarte:
“Lindo Portugal à beira-mar poisado,
Luzitania, terra de bom sol fagueiro,
De Linda Ignez, onde se canta o fado,
Terra de Camões, terra do Desejado,
De Soror Mariana e Bernardim Ribeiro!
Mas o poeta não esquece o seu torrão natal e diz:
“Eis a pátria minha, meu paíz natal,
Eis a Índia bella de moiras e fadas,
Terra bem mais rica do que Portugal,
Fantástica ilha em lagos de crystal,
Com lindas passagens feitas d’esmeraldas!
Terra de Manu, da bella Xacuntalá,
Do grande Valmiki e o doce Visuacarma
(Mariano Gracias, Regresso ao lar, 1906).
Paris foi capital intelectual, Portugal foi terra de amor.
“Víctor Hugo disse um dia
Que na França residia
Do Mundo a cerebração!
Foi um dia bem profundo:
–França, o cérebro do Mundo
Portugal, o coração
(Mariano Gracias, A Bíblia do Amor, Lisboa, 1913, p.33).
Um pensamento sobre “O Goês, cidadão do Mundo”