Pela sobrevivência

 

 

A arte de sobreviver não é uma tarefa fácil sobretudo para os mais pobres! Todo o ser humano tem direito a uma vida digna, isto é, com as condições mínimas de sobrevivência. Ora, a base essencial da sobrevivência é a alimentação e ninguém pode ficar indiferente ao drama da fome que, presentemente, afecta a humanidade.

Na realidade, somos muitos a requerer alimento, mas também é real que ainda há muita terra para cultivar e que, actualmente, se encontra ao abandono. Se pensarmos em África, onde existe tanta abundância de terra cultivável, muito produtiva e, aparentemente, de fácil acesso, não se compreende como é que este é um dos continentes onde tanta gente morre de fome. Sem informação, desnutridas e doentes, as pessoas deslocam-se em grande número para outras regiões à procura de ajuda, propagando doenças e outros malefícios, agravando ainda mais o problema.

Hoje em dia, as políticas de cultivo estão direccionadas para as novas tecnologias e concentradas na agricultura industrial, o que manifesta uma grande vantagem pela produção em grandes quantidades e pela eficiência do trabalho executado.

Por outro lado, a cultura tradicional rural foi votada ao abandono pelas populações devido à falta de incentivos dos governos e ao fácil acesso às mercadorias produzidas em quantidades industriais.

As pessoas, acomodadas, passaram a viver em função de subsídios, deixando de produzir a agricultura biológica que, além de ser mais saudável, era um suporte e uma alternativa para as populações rurais, permitindo-lhes ocupar o tempo, manter a tradição do meio e valorizar cada região.

Não restam dúvidas que, sem trabalho não há produção; com fome as populações entram em conflitos permanentes, promovendo a instabilidade e as guerras. As doenças aumentam e os meios para as combater são insuficientes, ficando prioritariamente ao alcance dos que menos precisam.

 

Fome: Onde está a solução?

 

Se um grão produzisse um pão a fome estaria em extinção?

Talvez não!…

Mas, se a cada vontade se juntasse reciprocidade seria viável uma solução.

O pobre ajuda o pobre, enquanto o rico prefere dar ao mundo;

A esmola do pobre é de ouro; já a do rico sumiu-se, num saco sem fundo.

A fome já vem de longe!… velha e doente, resiste…

Gerou muitos filhos, repartiu a dor, mas o seu horror persiste.

O Homem não é inocente porque promove a guerra;

A agricultura rural recolheu-se no seio da terra;

As políticas, raramente consensuais, agravam a crise;

E o povo pacientemente espera, porque é humano e vive.

Como se tudo isto não bastasse, surgem calamidades…

Meu Deus! Como é possível sobreviver a tantas realidades?

O pobre pergunta ao nobre: “Amigo, porquê te afastaste de mim?”

Com ironia, o nobre responde: “Ignorante!… porque sempre foi assim!”

Já nos dizia Pessoa: “…e o universo reconstruiu-se-me sem ideal…”.

Assim sendo, em contextos diferentes, o modelo é sempre igual.

 

Nazaré Cunha (2008-09-27)

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