95 teses: A Lusófona antecipa Lutero

 

O monge Martinho Lutero afixou as suas 95 teses na porta do  Schlosskirche, em Wittemberg (Alemanha) em 31 de Outubro de 1517. Foi um manifesto de protesto contra a doutrina das Indulgências da Igreja Católica, particularmente no contexto da utilização dessa doutrina para resolver as suas dificuldades financeiras.  A acção de Lutero foi em grande parte uma resposta à venda de indulgências por João Tetzel, um frade dominicano, delegado do Arcebispo de Mainz e do papa. O objectivo desta campanha de angariação de fundos foi o financiamento da Basilica de S. Pedro em Roma. 

Foi lançado ontem no auditório Vitor de Sá da Universidade Lusófona o nº 25 dos Cadernos de Ciência das Religiões, com a presença do Frei Bento, frade dominicano e director-fundador da Licenciatura em Ciência das Religiões na Universidade Lusófona, bem como do Prof. Dimas de Almeida, também professor da mesma Universidade e tradutor da versão portuguesa das 95 teses de Martinho Lutero publicada ontem.

Foi salientado durante o evento que a Reforma Protestante não conseguiu afectar Portugal com qualquer intensidade devido à actuação da Inquisição. Nem mesmo os Protestantes em Portugal manifestaram muito zelo na sua implantação neste país até os meados do século passado. Foi citado um processo da Inqusição de 3 de Março de 1571 que condenou um primeiro português, Manuel Travassos, bacharel da Universidade de Coimbra, acusado de heresia luterana. Neste processo que demorou 8 anos, ficou também implicado Damião de Góis.

Pode parecer anedótico, mas o censo oficial da Índia portuguesa em 1910 indicava 1 protestante em Goa. Descobriu-se que era o consul britânico em Goa. Um outro censo em 1942 não indicava nenhum protestante. Havia consul britânico ainda em Goa, mas nesta altura era um muçulmano, Major Ali Baig!

Embora tenha havido poucos estudos sérios sobre o protestantismo no mundo católico português, foi organizado um colóquio pelo grupo LUSOTOPIE da Sorbonne (Paris) em 1998.  Os estudos nele apresentados podem ser consultados nas Actas Lusotopie – 1998.

O anti-sionismo é anti-semitismo?

A História está cheia de contradições. As vítimas proclamadas do passado passam a ser os algozes dos outros hoje. O David bíblico do passado torna-se o Goliath de hoje, e nem se permite que esta nova realidade seja nomeada nestes termos. Ai daqueles que se insurgem contra esta intolerância daqueles que se batem contra o muro das lamentações! Não é de surpreender que as maldições históricas sejam da sua própria criação.

Ortografia para quem?

 

A ortografia e acordos são para padronizar a escrita. Mas esquece-se muitas vezes que a escrita tem que acompanhar foneticamente a fala. A fala vai ser diferente quando uma língua como o inglês ou o português, ou outra lingua de um país ex-colonialista se expandiu em regiões longe da metrópole, e é falada pelos povos que têm outra língua materna que lhes molda os orgãos que controlam a fonética.  É esta problemática que está na base de debates entre conservadorismo ortográfico e reforma, entre aqueles que querem fazer depender a ortografia da etimologia, e aqueles que preferem valorizar o acompanhamento fonético; entre aqueles que continuam a ver na língua um instrumento privilegiado de dominação e aqueles que consideram a língua como o seu património também e não monopólio exclusivo dos metropolitanos ex-colonialistas.

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A Inquisição de Goa – os goeses a vigiar os goeses!

 

Vimos que no Estado da Índia, tendo em vista o imenso espaço sobre o qual o tribunal inquisitorial exercia sua jurisdição, os representantes locais do Santo Ofício tiveram, dependendo da época, poderes delegados bastante alargados. Vimos também que houve um primeiro período de experimentação, em que o Santo Ofício tentou servir-se da rede eclesiástica secular para dar cabo da missão inquisitorial. Isto se deveu não só ao fato de a Inquisição não ter, na segunda metade do século XVI, nenhuma outra experiência no tocante a essa delegação de poderes, mas também porque este foi o modo encontrado pela instituição para incluir os bispos locais nos procedimentos inquisitoriais, evitando, assim, pensava Lisboa, que os mesmos tentassem avocar a si uma jurisdição que tradicionalmente havia sido exclusivamente sua. Mas assim não se passou, e primeiro os inquisidores de Goa, e em seguida o próprio inquisidor geral, escolheram confiar em comissários especificamente nomeados para servir ao Santo Ofício. Além disso, é interessante notar que as necessidades locais fizeram com que a rede de familiares e de comissários do tribunal goês já estivesse constituída em começos do século XVII, momento em que são nomeados os primeiros comissários do mundo atlântico português, inclusive no Portugal metropolitano. Diferentemente do que acontecia no resto do mundo português (quando eram nomeados pelo inquisidor geral), segundo esta documentação, os comissários da Índia parecem ter sido escolhidos e nomeados pelos inquisidores de Goa, sobretudo entre os membros de ordens religiosas, como na África ocidental, o que marca outra diferença com a Inquisição em Portugal e no Brasil, onde os comissários foram preferencialmente padres seculares: África e Ásia permaneceram então as terras de missão por excelência, onde os autóctones, uma vez convertidos, entravam sob a jurisdição inquisitorial e onde os membros das ordens regulares em missão eram muitas vezes os únicos padres da região. Mas este quadro, em que o clero regular dominava os postos de comissários, não se deu, como vimos, desde a fundação do tribunal goês.

As condições locais também fizeram com que surgisse na Índia um oficial inquisitorial específico ao seu mundo, e dele saído: o naique, que, além de servir de intérprete – que parece ter sido a sua função primeira –, também acabou por ter um papel de controle da população local, assimilando ao mesmo tempo o importante capital social que a função inquisitorial outorgava.

Finalmente, vale frisar que este estudo, feito somente a partir da documentação guardada na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro (para além das fontes impressas e da bibliografia), objetivou ter uma idéia geral de como os poderes inquisitoriais se diluíram nas condições extremas desse laboratório de instituições que foi o oriente português, assim como pôr em relevo esta mesma documentação, que me parece conter um farto material para se compreender como funcionou a Inquisição.

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Evolução e o homem

 

O Homem evoluiu numa complexa sucessão de factos ocorridos ao longo de milhões de anos. Tal como os outros animais, reproduziu-se e cresceu sob as regras do meio, associando-as à sua intuição. Aos poucos, apercebeu-se de que o espaço circundante era ilimitado e produtivo, podendo, ele mesmo, ser o impulsionador da força física e mental de que era detentor. Assim, o primata concebeu a ideia de transformação até atingir a posição erecta, facto que o distinguiu de outros da sua espécie. Esta e outras atitudes levaram o Homem ao centro da Terra. Confrontado com os mistérios da vida e já de mãos livres, pega no fogo e parte em direcção ao futuro, cozinhando os seus alimentos e defendendo-se dos animais ferozes. A sua pertinente curiosidade e necessidade de contacto, fá-lo procurar outros meios de comunicação. De início, manifesta as suas intenções através de francas exibições e pequenos gestos manuais. Depois, a linguagem adquire fluência e o homem toma consciência, sentindo necessidade de dizer que existe, ama e sente. Transpondo barreiras, utiliza todos os meios disponíveis para atingir os seus objectivos. Pela sobrevivência, alimenta e protege a sua prole, sofrendo os efeitos do meio ambiente natural, tais como a mortalidade e as alterações climáticas. Sempre em movimento, vai deixando nos locais de permanência alguns artefactos que, a seu tempo, permitirão aos arqueólogos e cientistas analisar a sua evolução. Muitas pinturas rupestres, compostas por expressões variadas, foram encontradas nas cavernas e em locais adequados. Também várias formas de escrita, ainda precária, são o exemplo das suas potenciais capacidades.

 

Homo Sapiens Sapiens

O Homem emerge e encanta!…

A sua habilidade é tanta que a todos espanta.

Cultural e socialmente desenvolve-se no seu meio.

Sem armas nem garras, liberta as amarras e avança sem receio.

Na savana ficam os outros animais.

Homo Sapiens Sapiens é pensante e diferente dos demais.

Pelo caminho, enquanto primata, deixou fragmentos e pistas;

Facto que, não sendo matéria exacta, interessa aos cientistas.

Distinto na postura e no saber, sofreu várias transformações:

É pertinente o seu querer na busca de soluções.

E, já de cabeça erguida, a mente reflecte sobre o progresso:

Defendendo-se, procura novas formas de vida com sucesso.

Em África, a Arqueologia descobre pistas decisivas:

Lucy, em Afar, foi um achado com evidências progressivas.

Para os especialistas, a origem do Homem é muito controversa;

Contrastam tempos e opiniões, em pedaços de história dispersa.

Neste contexto, o cientista debate-se por uma história exacta,

enquanto o Homem Moderno respeita o seu antecedente primata.

 

Nazaré Cunha (2008-10-25)